abril 1

8 em 10 cães com esta doença não são diagnosticados

8  comENTÁRIOS

 

A Síndrome da Disfunção Cognitiva (SDC) canina é uma doença neurodegenerativa de cães idosos, que chega a afetar quase 30% dos cães entre 11 e 12 anos, e praticamente 70% dos cães com 15 anos ou mais.  Esta síndrome também é conhecida como “demência canina” ou “Alzheimer dos cães”. Devido à sua similaridade com a doença de Alzheimer, cães com esta síndrome vêm sendo utilizados como modelo para o estudo da demência em humanos. Apesar de que as causas da doença permanecem obscuras, algumas possibilidades vêm sendo estudadas, entre elas: diminuição da circulação sanguínea no cérebro  (por diabetes, hipertensão, hiperlipidemia, ou pela própria senilidade), radicais livres, inflamações, e a própria senilidade, que diminui a capacidade de adaptação do indivíduo a agressões externas.

Cães com esta síndrome apresentam alterações de comportamento que podem impactar mais ou menos o seu relacionamento com os seus tutores. As alterações comportamentais são divididas em  cinco categorias básicas:

 

Categoria

Alterações (exemplos)

Desorientação

  • Parece confuso ou desorientado;

  • Fica perdido em ambientes familiares;

  • Fica “preso” atrás de móveis e portas abertas;

  • Olhando fixamente para o espaço;

  • Vagando sem rumo;

  • Latidos excessivos sem motivo aparente;

  • Não reconhece membros da família;

Interações sócio-ambientais

  • Brinca menos ou não quer brincar;

  • Agressividade;

  • Aumento da ansiedade por separação;

  • Responde menos, ou não responde a comandos conhecidos;

  • Carência excessiva, ou perda de interesse em interagir com o tutor;

Alterações no ciclo sono/ vigília

  • Latidos excessivos e/ou uivos a noite;

  • Fica agitado durante a noite;

  • Dorme muito durante o dia;

Eliminação inapropriada

  • Xixi e/ou cocô dentro de casa, ou na própria cama;

  • Incontinência urinária e/ou fecal;

Alteração no nível de atividade

  • Tem menos vitalidade;

  • Apatia;

  • Mudanças no apetite.

Um cão com Disfunção Cognitiva nem sempre terá todos os sinais. Ele pode ter alterações em apenas uma ou duas categorias, por exemplo. Enquanto algumas mudanças de comportamento praticamente não incomodam os tutores – “ele está dormindo muito porque está ficando velho, é normal” -, outras podem seriamente afetar o relacionamento entre cão e tutor: excesso de latidos, agressividade, e eliminação inapropriada, por exemplo, podem levar tutores menos compreensivos a “se cansarem” dos seus animais, a abandoná-los ou agredi-los ao invés de ajudá-los.

A Síndrome da Disfunção Cognitiva afeta mais fêmeas do que machos, sendo que machos castrados parecem ser mais afetados do que os “inteiros” (não castrados). Não há predileção por raça ou tamanho, e os sinais são mais visíveis a partir dos 11 anos de idade, apesar de que alguns sinais podem já começar a partir dos 6 anos em cães maiores.

cadela com disfunção cognitiva
Cadela com SDC, “presa” sob uma cadeira.
Imagem: DogDdementia.com

Um dos grandes problemas da Síndrome da Disfunção Cognitiva é que ela é extremamente subdiagnosticada. Um estudo chegou a sugerir que cerca de 85% dos cães com esta síndrome não são diagnosticados adequadamente. Isso porque muitos tutores entendem os sinais desta doença como alterações normais da velhice, e, portanto, não consideram relevante sequer mencioná-las durante as consultas com o médico veterinário. Os próprios médicos veterinários podem, por vezes, ter dificuldade em identificar esta síndrome e diferenciá-la do envelhecimento normal ou de doenças neurológicas.

O diagnóstico preciso desta síndrome não é fácil, já que, como já mencionamos, os sinais podem ser facilmente confundidos com o envelhecimento normal e com outras doenças – como cinomose (sim, cinomose é doença de filhotes, mas velhinhos não vacinados ou com as vacinas vencidas podem pegar), tumores no cérebro, hipotireoidismo, doenças cardíacas, etc. E, não sendo diagnosticada, a doença não será tratada.

A Síndrome da Disfunção Cognitiva canina não tem cura, mas pode ser tratada. Apesar de que nem todos os medicamentos usados para o tratamento da SDC estão disponíveis no Brasil, nós temos sim algumas drogas disponíveis. Além de medicações específicas para a doença, o uso de suplementos alimentares ricos em antioxidantes (vitaminas C e E) e neuroprotetores (vitaminas do complexo B), ômega 3 e alguns aminoácidos, têm demonstrado excelentes resultados. A marca Hill’s chegou a lançar uma ração enriquecida especificamente com a finalidade de aliviar os sinais da SDC (Hill’s ® Prescription Diet b/d ® Canine), mas ela está disponível somente nos EUA.

Outros medicamentos, como vasodilatadores cerebrais e antidepressivos, também vêm sendo utilizados para auxiliar o tratamento, melhorando a disposição do animal e corrigindo problemas de ansiedade e sono/vigília. Mas terapias alternativas também estão disponíveis, e uma das que se destaca é a acupuntura. Ela melhora os transtornos cognitivos e circulatórios, e retarda a progressão da doença.

Exercícios físicos devem fazer parte do protocolo padrão de tratamento da Síndrome da Disfunção Cognitiva Canina. Ao fazer caminhadas diárias, os cães são estimulados física e psicologicamente. O exercício físico melhora a circulação sanguínea cerebral e o desempenho cognitivo; além disso, ao ver, ouvir e cheirar novos ambientes, o cão tem as suas funções cerebrais estimuladas, e o seu relacionamento com o tutor, fortalecido. Tudo isso ajuda a aliviar e retardar os sinais da SDC.

Por fim, quando o cão está em casa também é possível estimulá-lo através do chamado enriquecimento ambiental. Isso é feito por meio de jogos e brinquedos interativos específicos para cães. Existem, por exemplo, bolinhas furadas com petiscos dentro para o cão tentar pegar, ou jogos que escondem bolinhas ou bichinhos para motivar os cães. Toda forma de interação é válida, por manter o cão com o corpo e a mente ativos. No vídeo abaixo, um tutor ensina a sua cadela de 15 anos, quase cega, a brincar com brinquedos interativos. O vídeo é em inglês, mas é possível entender mesmo sem falar a língua. Para os aumigos que quiserem tentar usar este tipo de brinquedo, temos apenas duas pequenas observações: (1) pergunte ao seu veterinário se o seu cão pode comer o petisco que está sendo oferecido – alguns cães podem ter restrições alimentares; e (2) cuidado com excessos, para não engordar o seu peludo!

 


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  1. Doutora Bárbara,

    Gostei das dicas de prevenção.

    Eu não sabia que os estímulos mentais são tão importantes aos cães. Os brinquedos de nylon para limpeza de dentes tem alguma utilidade nesse sentido ou somente aqueles específicos como o Kong?

    Um dos meus cães tem 12 anos e gosta muito de bolinhas de tênis (não de outros brinquedos).
    De alguma forma ela poderia ser útil em relação a estímulos mentais?
    Quando o resgatamos com 2 meses, ele tem baixa visão, então tento dar outros brinquedos, mas ele não se interessa, exceto pelas bolinhas.

    Obrigada,

    1. toda forma de interação é útil e ajuda a manter o cão estimulado. Aqueles do tipo “kong” são interessantes porque podem manter o cão entretido mesmo na ausência do tutor, embora nem todo cão se interesse por brincar sozinho assim. Mas qualquer brinquedo ajuda =)

  2. Boa tarde, com teu artigo, acabei de entender o que meu cachorro tem. Os veterinários sempre dizem que é uma demência da idade.
    O Spike vai completar 18 anos dia 20/04, sempre foi um lhasa forte, nunca ficou doente, era obediente, mandão e acho que sempre pensou que é uma pessoa, é minha “sombra” há 18 anos, minha alma gêmea canina.
    De uns meses para cá, foi ficando cego, perdido, preso nos cantos. Agora, já não balança o rabinho para mim, quase não dorme à noite, anda em círculos, fica preso na parede, faz côco e xixi em qualquer lugar, na cama dele e na minha não faz, e pisa em cima, ainda come e bebe, agora come mais com ajuda, mas não engorda mais, está pele e osso, e tem diarreia, mas não chora de dor, não levanta mais da caminha quando está deitado de lado, mas anda muito, mesmo não tendo mais músculo. Eu e meu marido quase não dormimos, cuidando dele, estamos exaustos.
    Todos na minha família, inclusive o veterinário, acham que devo fazer a eutanásia, eu ainda não me convenci, ainda mais porque sou espírita, mas por outro lado, não aguento mais vê-lo definhar, ficar preso pelos cantos, embora dor forte ele não sinta.
    Eu é que além de exausta, sinto uma dor horrível, choro muito, é a decisão mais dificil que me deparei na minha vida. Não sei o que fazer.

    1. Não faça isso com seu cão o meu está igual nos tbm ficaremos velhos, eutanásia só em caso de dor e muito sofrimento eu estou passando extanente pelo Quebec está passando meu cocker tem 26 anos e está assim agora além de tudo está tendo convulsões

    2. Olá, Juliana! A Síndrome da Disfunção Cognitiva Canina é, de fato, uma forma de demência. Ela pode ser tratada, embora dificilmente se consiga recuperar completamente a função cognitiva do animal.

      Compreendo totalmente o seu dilema, e, em alguns casos, acaba sendo feita a eutanásia. Mas se você não está convencida de que é o caso de fazer, ou se não se sente confortável com o conceito de eutanásia, então não faça. É melhor do que se arrepender depois.

      Tenho alguns artigos que talvez possam ajudá-la:
      – Sobre as dificuldades de se cuidar de um cão idoso/ doente: https://www.meucaovelhinho.com.br/artigos/bem-estar-animal/vida-e-os-dilemas-do-cuidador/
      – Sobre a eutanásia: https://www.meucaovelhinho.com.br/artigos/bem-estar-animal/aquela-palavra-com-e-2/
      – Sobre cuidados paliativos: https://www.meucaovelhinho.com.br/artigos/bem-estar-animal/dadiva-da-despedida/

      Um abraço no coração! <3

  3. O meu cachorro parou de latir. Não subia mais escadas e nos móveis. Parou de levantar a perna para fazer xixi. Diminuiu o apetite. Emagreceu. Dormia muito de dia.

    Depois, ele começou a girar em círculos dia e noite sem parar. Ficava preso entre os móveis toda hora. Fazia xixi e cocô fora do lugar habitual. Trocava o dia pela noite. E gemia muito.

    Ele foi diagnosticado com Mal de Alzheimer (disfunção cognitiva canina) em julho de 2016.

    Ele tomou Jumexil + Gabapentina 40 mg + Tramal.

    Ele gemia muito. A médica disse que ele tinha apenas delírios e não dores, pois estava muito bem medicado com 2 analgésicos potentes.

    A taxa de Creatinina estava a 2,5 e a Uréia a 266. Essas taxas oscilavam bastante. Baixavam e subiam a cada semana.

    Tudo começou no início de julho. Foram 4 meses lutando para ele ficar curado.
    Infelizmente, ele morreu na última terça-feira, dia 2 de novembro.

    Na madrugada de 1 para 2 de novembro, ele começou a ficar muito agitado, gemer e até voltou a latir. Vomitou 2 vezes. Eu fiquei desesperada. Não sabia mais o que fazer.

    Então, eu o levei para o pronto socorro 24 horas. O veterinário fez a eutanásia. Disse que ele havia piorado da Disfunção Cognitiva e não tinha volta. Ele não iria melhorar.

    Será que foi a disfunção que matou o meu cachorro?

    Ou foram os rins?

    Obrigada pela atenção.

    1. Olá, Roselaine!
      A Disfunção Cognitiva Canina não é uma doença fatal, ela apenas faz com que o cão fique desorientado, perca o adestramento, e tenha outras alterações comportamentais.Então, não creio que tenha sido este o problema. Exatamente o que levou o seu cãozinho a óbito, infelizmente não posso saber com qualquer grau de certeza… se havia dúvida na ocasião, o indicado seria ter feito uma necropsia.
      É certamente muito frustrante perder um amigo assim sem entender o porquê, mas, agora, acredito que é preciso ficar em paz, e saber que ele não sofre mais. Que Deus te abençoe e dê muita força <3

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