agosto 13

Veterinários Respondem: Crianças que Vivem com Animais podem Desenvolver Doenças Graves?

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A reportagem recentemente publicada pela Revista Caras intitulada “Crianças que Convivem com Animais podem Desenvolver Doenças Graves” causou comoção na comunidade veterinária. De forma irresponsável, a pediatra que assina o artigo leva a crer que todo animal representa riscos à saúde das crianças, o que pode inclusive estimular centenas de famílias a abandonarem seus amicães.

Diante disso, nossos mestres veterinários respondem:

CRIANÇAS QUE CONVIVEM COM OUTRAS CRIANÇAS PODEM DESENVOLVER DOENÇAS GRAVES

Autores: Alexander Welker Biondo, DVM, MSc, PhDDisciplina de Zoonoses – Departamento de Medicina Veterinária – UFPRabiondo@illinois.edu; Juliano Leônidas Hoffmann, DVM, MScSecretário Geral do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paranájuliano@institutocna.org.br; Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk, DVM, MSc, PhDSecretário Geral do Conselho Federal de Medicina Veterináriafelipewouk.sg@cfmv.gov.br

Recentemente foi publicado um artigo em revista de circulação nacional na qual a pediatra Filumena Gomes afirma que “crianças que convivem com animais podem desenvolver doenças graves”. Segundo a pediatra, ter animais em casa virou “mania nacional”, com 70% das residências possuindo animais, os quais circulam por todos os cômodos e “até comem com os humanos”, colando em risco a saúde das pessoas com as quais convivem.
Faltou à pediatra comentar sobre outra fonte muito mais importante de risco à saúde das crianças: as próprias crianças. Segundo o Ministério da Saúde (MS), a queda da mortalidade infantil se deveu principalmente à “redução das doenças infecciosas, especialmente as imuno-preveníveis que tiveram vacinas introduzidas recentemente como a vacina contra Haemophilus que apresenta impacto importante na redução das meningites e pneumonias provocadas por esse agente”. O Haemophilus influenzae, do mesmo modo que o vírus da gripe H1N1, não é transmitido por animais, mas principalmente por pessoa a pessoa, ou seja criança a criança.

 

criança abraçando cão - transmissão de doenças
Também de acordo com o MS, houve uma “importante redução das diarréias como causa de óbito, resultando numa maior queda da mortalidade no período pós-neonatal”. Diarréias podem ser causadas por diferentes fontes, sendo as principais a falta de higiene e o contato com pessoas (ou crianças) infectadas. Deste modo, de um modo simplista como abordou a pediatra em seu artigo, poderíamos concluir que “crianças que convivem com outras crianças podem desenvolver doenças graves”, o que deveria ser evitado.
No entanto, mesmo durante e epidemia recente de gripe H1N1, sempre tivemos a certeza de que, uma vez controlada a doença, as crianças deveriam voltar às escolas, porque criança precisa de criança para brincar, aprender, ensinar e compartilhar. Não precisamos ter medo de nossas crianças com outras crianças, precisamos ter assegurada a saúde de todas elas. Afinal, criança saudável não transmite doenças a outras crianças.
Em estudo recente do próprio MS, o Programa de Saúde da Família (PSF), da qual o Médico Veterinário faz parte, teve impacto significativo na queda da mortalidade infantil no Brasil nesta última década. “Para cada aumento de 10% da cobertura do PSF, a mortalidade caiu 4,5%”. Isso porque a saúde das pessoas, dos animais e do meio ambiente estão interligadas e são interdependentes. Se a saúde ambiental melhora com saneamento básico, melhora a saúde das pessoas e dos animais, e assim por diante. E por isso a participação do Médico Veterinário é tão importante para prover saúde às pessoas, aos animais e ao meio ambiente.
Além disso, animais de companhia tem um papel importantíssimo como sentinelas da saúde humana. Cães e gatos, por exemplo, tem sido reconhecidos como potenciais sentinelas para várias doenças que acometem as pessoas, pois compartilham o mesmo ambiente de seus donos. Segundo artigo recente “no contato íntimo dos membros da sua família humana, animais de companhia frequentemente tomam a mesma água e comem comida semelhante, compartilham a mesma cama e acompanham as mesmas viagens, estando sujeitos aos mesmos riscos de doenças que seus donos”. Portanto, conclui o texto “a saúde dos animais de companhia são um espelho da saúde e cuidado de seus donos, e apontam os riscos à saúde das pessoas que convivem no mesmo lar”.
Sendo assim, do mesmo modo que cabe ao pediatra zelar pela saúde das crianças, cabe ao Médico Veterinário garantir a saúde dos seus “entes familiares não humanos” que lhes servem de companhia. Fique tranquila, Dra. Filumena, não precisamos ter medo de nossas crianças com outras crianças, nem delas com os seus bichinhos, basta assegurarmos a saúde de todos eles. Afinal, crianças e animais saudáveis não transmitem doenças.
Alexander W. Biondo, MSc, DVM, PhDAssist. Prof. Molecular Biology, Zoonoses & Shelter MedicineUniversidade Federal do Parana, Curitiba, BrazilVisiting Prof. University of Illinois / Purdue UniversityPhone: +55 41 8845-8750 abiondo@illinois.edu


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