novembro 27

Os Anjos de Tereza – Parte II

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“Quando Brisa tinha 5 meses, me acompanhava em meu trabalho na Hípica da mesma forma que Kika fazia, e eu começara a pensar em castrá-la – eu havia esgotado minha quota de amigos confiáveis para dar filhotes, com os irmãozinhos da Brisa… E chegou na hora exata a pessoa certa pra cuidar de todos os meus cães dali pra frente: uma jovem veterinária, com suas 2 filhinhas de 5 e 7 anos, procurando aulas de equitação. As meninas começaram a tomar minhas aulinhas de equitação, e a mãe, que as trazia 2 vezes por semana, ficava assistindo e trocando idéias comigo.

Foi assim que conheci a veterinária Telma Ferrante (hoje proprietária de Clínica 24 horas em Sampa, com filiais) e suas duas filhas Tatiana e Patricia (hoje também veterinárias). E iniciou-se uma amizade que perdura já por mais de 26 anos! Embora eu tenha utilizado os serviços profissionais de alguns outros veterinários ao longo desses anos, a maioria deles também havendo se tornado amigos, Telma e suas filhas sempre foram as “titulares” no atendimento a meus cães.

Elas sempre reuniram três fatores importantíssimos na escolha de um vet:
1. A competência profissional;
2. O amor e a consideração muito grandes pelos animais (pasmem, mas tem vet que não dá muita bola pra bicho);
3. O bom relacionamento necessário a bons resultados que o cliente precisa ter com seu veterinário.
E um fator extra, talvez o mais importante na influência sobre a saúde de meus cães: a amizade mútua com confiança, que me dá a liberdade de telefonar à residência de qualquer delas a qualquer hora, para uma orientação de emergência, e um diagnóstico explicado com toda a sinceridade, até que eu possa entender, aliado a uma forma de pensar parecida com a minha.


UMA BRISA MAIS PARA VENDAVAL

Brisa. Como falar de você?!

Você era a vida personificada, levada, alegre, brincalhona, companheira. Quantos anos passamos juntas, quase dezesseis… Minha primeira mestiça. Tinha o corpo e a cor do boxer, como a mãe, mas o pai viralata deixou sua marca no focinho comprido.

Minha Brisa… Você ainda aproveitou a liberdade daqueles anos 80, ficou solta pelos Condomínios onde morávamos, ia comigo à Hípica solta, e ficava correndo enquanto eu dava minhas aulas… Quando havia um passeio a cavalo pelas matas, você ia junto, fuçando tudo que encontrava, desde esquilos até excremento de cavalo. Você ia comigo, de carro, para onde eu fosse. Mais tarde, já velha, ia com o Hélio.

Falar da Brisa na terceira pessoa é difícil! Os primeiros tempos em que a cachorra viveu foram ainda favoráveis à liberdade de correr solta e de me acompanhar a muitos lugares em que, hoje em dia, cachorro não entra. Talvez por isso sua vidinha esteve muito ligada à minha vida, enquanto estivemos juntas.

As lembranças se sobrepõem e se confundem, não sei se é em meu sonho acordado que vejo Brisa correndo no mato, pulando como um coelho, brincando de pega-pega com seus companheiros da Hípica, o pastor alemão Joe e o viralatinha Bubi. Ou talvez eu esteja vendo os três através do véu que separa este mundo do outro, onde o tempo não existe, e as cenas correm uma atrás da outra, como num filme: Brisa perseguindo uma ratazana no meio do mato, pulando o muro de casa para passear pela rua, rolando na lama com Joe e Bubi, sempre com aquela cara de sorriso.

Bubi, Brisa e Joe: amigos brincando, em Maio de 1986

Decidimos castrar Brisa logo. Telma a levou para a Clínica em uma manhã e devolveu-a de noite, já castrada, com um grande esparadrapo dando a volta no tronco; na manhã seguinte, Tatiana e Patrícia tinham aula de equitação, e bem cedinho eu me preparei para ir à Hípica. Brisa quis ir junto. Acabei deixando, mas perguntei à Telma, assim que ela chegou com as meninas, se não seria perigoso a cadela estar andando, menos de 24 horas depois de operada. Telma me tranquilizou, dizendo para deixá-la à vontade.

De repente, um susto! Brisa passava por nós feito um rojão, correndo atrás de Joe e Bubi. Os três cães começaram a brincadeira de todos os dias, pulando, rolando, se perseguindo. Eu queria correr para prender Brisa, mas Telma só deu risada e falou para deixar e observar como o cão não tem a parte psicológica das pessoas, que induz ao medo e à dor. Dito e feito: a operação cicatrizou totalmente em menos de uma semana, sem problemas, apesar das correrias malucas.


Por que será que os perfumes favoritos dos cachorros são aqueles que mais nos repugnam?

Brisa adorava um cheiro de carniça.

Quando morria algum cavalo na Hípica, era um problema para enterrá-lo: seria necessário um trator para cavar um buraco grande o suficiente, ou pagar a mão de obra para isso. A grande maioria dos proprietários não queria arcar com essa despesa. O administrador resolveu esse problema reservando uma área no alto do morro, que fazia parte do sítio onde a Hípica ficava, mas não era usada, para um “Cemitério de Cavalos” onde se deixava os despojos para que os urubus fizessem o serviço de limpeza. Claro que o local virou um depósito de carniça e, consequentemente, um paraíso para os cães.

Brisa vivia excursionando ao cemitério de cavalos e, não contente em se espojar, ainda trazia consigo ossos para ficar roendo. Todos que estavam presentes nessas ocasiões percebiam sua aproximação, mesmo antes de vê-la chegar toda feliz com seu osso. As crianças se divertiam vendo o nojo dos adultos quando
ela entrava na sede social com uma carniça na boca, só para ser escorraçada de lá. Se eu não estava trabalhando na Hípica, ela trazia a porcaria para nossa casa, mesmo. E fazia cara de coitada quando eu a punha num banho com desinfetante, para tirar aquele perfume, para ela delicioso.

Brisa em 1988, roendo uma carniça que pegou no cemitério de cavalos

Não era só no cemitério que Brisa procurava seus perfumes: como ela andava solta pelas ruas do Condomínio, volta e meia pegava algo nojento em um lixo. Certa noite, eu voltava para casa de carro quando os faróis iluminaram Brisa, no meio da rua, se deliciando com um pedaço de gordura asqueroso, que não queria soltar mas trazer para dentro do carro.

Nos passeios a cavalo que a cadela acompanhava, ia farejando para se espojar onde quer que encontrasse um passarinho ou outro bicho morto, ou estrume de boi ou de cavalo.

Alguns anos mais tarde, quando eu construí uma pousadinha no litoral – que se chamava “Morada da Brisa” – a cachorra ia comigo todas as vezes que eu descia a serra. O mau cheiro da vez era peixe morto na beira do mar e do rio que fazia divisa com a casa. O local era point de urubus, é claro, e Brisa se divertia correndo atrás deles, que levantavam vôo e não se deixavam apanhar, para pousar de novo logo adiante, e a cachorra recomeçar a correr atrás deles. Ela passava tardes inteiras nessa brincadeira.

Também gostava de andar pelo rio dando botes nos cardumes de peixe, mas não conseguia pegar nenhum. Quando eu ia viajar, perguntava a ela: “-Vamos pegar peixe e pegar bús?” E sua carinha, já grisalha, se iluminava.”

pousada
Brisa comigo em Boiçucanga (litoral norte SP) em 1989 – a Pousadinha que construí lá em 1993 recebeu o nome de “Morada da Brisa”

 

rio
Brisa pescando no rio de Boiçucanga em 1993

Texto e fotos por Tereza Falcão.


Este é o fim da segunda parte da história de Tereza e os seus anjinhos… Em breve, tem mais!


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