março 11

Os Anjos de Tereza – Parte VII

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Um dia veio nos conhecer uma mocinha de doze anos, a Bianca, filha de uma amiga que minha mãe fez em Santos, e que adorava boxers, porque ajudara a criar o filhote boxer de sua vizinha. Ela nos adorou, também, e nós a ela!

A partir desse dia, por quase um ano inteiro, Bianca vinha com uma ou duas amiguinhas para nos levar a passeio no calçadão da praia, junto com nossa mãe humana. Esse calçadão fazia divisa com a areia da praia e tinha enormes gramados, cheios de árvores e flores, e eu nunca entendi por que os humanos não deixavam seus cães correr nessa grama, fazer buraco na areia da praia ou entrar no mar para nadar, seria tão gostoso! Eles diziam que “era proibido”…

Mas, mesmo assim, era divertido andar pelo calçadão. Havia um monte de gente com cheiros diferentes, muitos levando seus cães, que a gente cheirava igualmente. Cheirávamos a beira da grama, a beira da areia e os lixos, e sorveteiros e carrinhos de cachorro-quente e de churros, de pipoca e de lanches. Um ou outro vendedor bonzinho nos dava um pedacinho para provar.

Foi numa tarde de sábado que mamãe e as meninas resolveram visitar a feira hippie do calçadão, nos levando pelas guias. Fiquei maluco de tão ansioso vendo aquilo! Uma porção de barracas coloridas, com coisas de todo tipo, e um monte de gente olhando e passeando ali pelo meio! Um monte de cheiros que eu não conhecia! Fiquei de olhos esbugalhados, levantei a cabeça e as orelhas, abanei o rabo com força.

Então, vi um senhor gordo levando pela coleira um pequeno poodle branco, tão bonitinho que me deu vontade de brincar de pega pega com ele. Tomei coragem e parti feito um foguete em direção ao cãozinho. Minha guia rebentou da coleira e eu fiquei livre.

O senhor gordo começou a brincar comigo, puxando seu cãozinho para o alto, no ar, pendurado pela guia e rodando o bichinho ao redor da sua cabeça careca, como naquele brinquedo de parque de diversão, o gira-gira! Eu adorei! Fiquei correndo em volta e pulando para alcançar o cachorrinho e nem percebi que podíamos derrubar as barracas e os donos delas estavam começando a reclamar… Também nem escutei as pessoas gritando ao redor, e fugindo com medo, falando: “ – Tirem esse cachorro bravo daqui!”

Só percebi que havia algo errado quando o gordo começou a gritar
“ – Socorro! Socorro!” e aí minha mãe gente, que sempre levava uma guia de reserva na bolsa, prendeu depressa essa guia em minha coleira e me puxou correndo de lá.

As pessoas xingavam minha mãe e as meninas, dizendo que elas eram “irresponsáveis” por trazer um cachorro bravo para o meio da feira, e nos escorraçaram de lá. Não entendi que “cachorro bravo” era esse… O Shiva estava quietinho… Ainda bem que não chegamos a derrubar nenhuma banca de mercadorias…

Foi divertido, mas desde então minha mãe começou a ficar com medo de sair de casa conosco e algum de nós escapar. Desse dia em diante, as meninas vinham brincar no nosso quintal, em vez de passear, e se saíamos de casa, era sempre de carro.

Comecei a ficar triste, o Shiva mal humorado, e mamãe Ágata ficou doente. Então mamãe gente me trouxe de volta para a cidade onde nasci, para morar com meu irmão humano e a Gaia, para que eu tivesse novamente um enorme quintal na chacrinha dele, e fosse passear com ele e a Gaia todos os dias.

Quando eu tinha pouco mais de 5 anos, mamãe Ágata morreu, e mamãe gente a trouxe para enterrar aqui em nosso quintal. E um ano depois, Shiva também morreu, e mamãe gente o trouxe para fazer companhia à mamãe Ágata em nosso cemitério de cães cheio de flores.

Então mamãe gente começou a pensar em voltar para cá. Meu irmão humano arrumou emprego e foi morar em outra cidade com sua mulher e filhinho e minha mamãe gente veio morar, finalmente, comigo e com a Gaia.

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Em 2007 (com 7 anos, início da “velhice teórica”), com a mamãe humana e a companheira Gaia (então com 9 anos)

Texto e fotos por Tereza Falcão

Na próxima semana, tem mais!


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