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Os Anjos de Tereza – Parte X

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MEU ÚLTIMO DIA DE SOL

Hoje, sexta feira dia 14 de Outubro, completam-se 4 semanas da partida do meu Solzinho. Dia 14 de setembro – véspera de meu aniversário – foi dia de ir a Santos, cuidar das coisas de minha mãe. Ela até perguntou por que eu não iria dia 15 que era o niver, e eu não contei a ela mas foi porque queria passar o dia de meu niver com meu Sol.
Sol ficou com a Silvia, que adora cães e fazia limpeza em minha casa nos dias em que eu precisava viajar, no dia 14; chovia ao final da tarde – na hora em que eu sempre retornava à nossa casa – e Silvia fechou as portas da sala e da cozinha, para que o Sol não ficasse molhado me esperando no portão, como ele sempre fazia. Mas quando eu cheguei, lá estava ele fazendo festa, molhado e feliz – abrira sozinho a porta da cozinha para ir me esperar no portão. Fiz festa de volta para ele, dizendo: “Pronto, agora a mãe tem um mês pra ficar com você sem precisar sair de casa!”

Dia 15, meu niver, logo às 8 da manhã fui levar o Gol que meu filho usa para colocar um pneu melhor no estepe – e Sol foi comigo, sempre adorou passear de carro. Quando parei na loja de pneus, saí do carro com ele na guia pra dar uma voltinha enquanto colocavam o pneu; andamos um pouquinho pela calçada, mas ele logo quis voltar ao carro, não viu nada de interessante naquele cimento, asfalto e trânsito de zona comercial de cidade. O pneu já fora colocado e voltamos pra casa.

Às 10 horas, meu vizinho Jairo, que passeia diariamente comigo e com meus cães, chegou, e fomos, Sol e eu, passear a pé com Jairo e Chorão. Sol e Chorão caminharam juntos contentes, como sempre, farejaram todas as “pistas” deixadas por outros cães nas últimas 24 horas, no final do passeio cruzamos com 2 missionários evangélicos que acharam Sol “lindo”, mesmo estando velhinho.

Na hora do almoço, saí novamente de carro, desta vez na picape, para buscar material para o canil das cachorras que estou esperando para hospedar, e Sol veio correndo e pulou na caçamba preparada para levar cachorro, com capota de fibra e forrada com colchão e almofadas – todo contente. Quando retornamos, estava calor e ele bebeu água e deitou na ardósia fresquinha do chão, com um suspiro de satisfação. Quando eu falei “Passeou de Gol” ele bateu o rabo; “passeou com o Chorão e o Jairo”, novamente bateu o rabo; “passeou de picape”, bateu o rabo mais uma vez e suspirou novamente.

Dormiu a meu lado a maior parte da tarde, enquanto eu trabalhava e lia um pouco. Jantou feliz e com apetite sua ração de baixas calorias e seus fígados de frango. Dormiu bem e tranquilo a noite inteira. Acordou no dia 16 fazendo festa, como sempre, e lambendo minha cara. Tomou seus remédios, foi fazer xixi na grama, voltou e farejou o lixo que eu estava recolhendo para o lixeiro levar. Foi latir no portão ao ouvir movimento de passantes, como sempre fez por toda a vida. E ao levar o lixo até o portão, vi que ele havia parado de latir e estava deitado – para sempre.

Dia 16 de setembro de 2011, às 7.30hrs da manhã Sol partiu em paz, e o enterrei com o colchãozinho, o mesmo cobertorzinho com que o cobri junto com seus irmãos quando nasceram, e o brinquedo que ele gostava

CREPÚSCULO

sol-x-crepusculo

Como a ausência é cheia de presença. Em todos os momentos da rotina do dia.

Ao acordar, a lembrança do corpinho quente a meu lado, batendo o rabo ao ver que eu despertava. E aquele rolar contente de barriga pra cima, pra que eu o abraçasse.

A ida até a cozinha, esperando sua dose de remédios da manhã, embrulhados no patê de frango. E a saidinha matinal à grama para um xixizinho.

Os latidos no portão, a cada vez que passava alguém na rua. E a expectativa feliz de ir passear a pé ou de carro, os olhos brilhantes e felizes.

A espera deitadinho ao lado da entrada da casa, olhando para a rua pela fresta debaixo do portão, e o ofegar de alegria sempre que eu voltava da rua, galopando e pulando e fungando, mesmo que eu houvesse me ausentado apenas meia hora.

E a hora das refeições, agora sem ele sentadinho, quieto, a meu lado, esperando sua vez de comer um pouco daquilo que eu comia, e escolhia com a intenção de não haver nada que fizesse mal pra cachorro.

E conforme a tarde chega e vai se transformando em crepúsculo, a ausência se torna cada vez mais plena da presença desse cão tão singular, tão diferente de todos os outros, tão parte de mim.

O ritual das tardes de preparar a comida dos bichos já não é o mesmo sem ele a meu lado, esperando paciente e comendo pequenos aperitivos de peito de frango, antes de receber sua comidinha de baixas calorias. Estou abolindo este ritual, mudando aos poucos o horário das refeições dos cães e gatos que ficaram, para mais cedo…

E a hora de dormir, agora há outro boxer a meu lado, o companheiro de passeios, que parece que entende a falta que Sol me faz… Mas as três gatas não estão mais vindo deitar ao redor do corpinho quente de seu amigo Sol, que as acolhia como uma mãe gata. Elas agora mantem distância. Ficaram ao redor de seu amigo que partiu, pela última vez, logo depois que ele se foi e eu o ajeitei no colchãozinho que era do Shiva, coberto com o mesmo cobertor xadrez com que cobri a ninhada da Ágata na qual nasceu Sol, como se estivessem velando o amigo que partia…

Agora, o sol nasce de manhã iluminando o mundo, mas não aquece meu coração, não ilumina mais minha vida, não há mais Sol indo se deitar na grama que recebia a luz matinal para aquecer seu pelinho dourado.
Parece que nada mais tem cor, nada mais tem importância, nada mais vale muito a pena. Ficou um silêncio enorme e a presença dessa ausência que me faz submergir numa bruma de saudade.

PRIMAVERA SEM SOL

É dia 21 de setembro, início da Primavera. A que seria a 12.a primavera do meu Sol. E que não vou mais ver desabrochar com ele a meu lado, embora talvez ele esteja a meu lado em espírito. Como será a Primavera na Ponte do Arco Íris?.. Desconfio que, lá, a Primavera é eterna…

E aqui estou, mais só do que jamais me senti, mesmo com os outros cães e gatos e filho, nora e neto, lembrando do Sol dançando com meu netinho cada vez que eu colocava um CD pra tocar com as músicas que ele gostava, a country “The Gambler” cantada por Kenny Rogers e a música “dele”, os Beatles cantando “Here Comes the Sun”…

Texto e fotos por Tereza Falcão

 


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