abril 15

Doença Periodontal em Cães

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A maioria dos tutores não considera os cuidados com os dentes dos seus cães uma grande prioridade. O que eles não sabem é que a doença periodontal, que afeta aproximadamente 85% dos cães com mais de 3 anos, não causa problemas só na boca: ela também pode causar insuficiência cardíaca, renal, hepática, e artrites. E, além de tudo, não tem cura!

O que causa a doença periodontal?

A principal causa da doença periodontal é a placa bacteriana. A placa bacteriana é um aglomerado de bactérias que se adere à superfície dos dentes junto com alguns componentes da saliva. Há bactérias por toda a superfície dentária, mas o lugar predileto delas é no sulco gengival – o espaço entre o dente e a gengiva -, onde a limpeza natural pela saliva, língua, e abrasão dos alimentos duros, não é eficiente. As bactérias se organizam na forma de placa bacteriana muito rapidamente: o processo todo leva apenas 24 a 48 horas!

É para evitar a organização da placa bacteriana que nós escovamos os nossos dentes – e deveríamos escovar os dentes dos nossos cães também! Em um estudo feito com 93 cães entre 4 meses e 13 anos de idade, variando ente 0,8 e 24Kg, 100% deles (sim, TODOS eles) tinham placas bacterianas em seus dentes. As placas bacterianas podem se calcificar, formando os cálculos dentários, também conhecidos como tártaro. Enquanto a placa bacteriana é mole e amarelada, os cálculos são duros, e podem ser amarelos, marrons, ou esverdeados. A sua superfície irregular facilita o acúmulo de ainda mais placa bacteriana.

Cão com doença periodontal
Cão com cálculos dentários e doença periodontal.
Imagem: Wikimedia

A presença de placa bacteriana no sulco gengival causa gengivite, que é a inflamação das gengivas. A gengivite pode ser curada se for feita a remoção das placas bacterianas no tempo certo. Por outro lado, se a placa não for removida, a gengivite evolui para a doença periodontal, que não tem cura. Na doença periodontal, não apenas a gengiva é afetada, mas também os ligamentos que mantêm os dentes no lugar, e o próprio osso abaixo deles.

É só um dentinho amarelinho, tem problema?

Cães com doença periodontal têm mau hálito, dor de dente, e podem até mesmo perder um ou mais dentes por conta disso. A dor pode impedir o animal de se alimentar, e, em alguns casos, torná-lo agressivo. Outro problema são as chamadas fraturas patológicas, que acontecem quando o osso onde ficam os dentes (geralmente a mandíbula, mas pode ser na maxila também) se quebra “espontaneamente”, por ter sido enfraquecido pela doença periodontal. As fraturas patológicas representam nada menos que 13% de todas as fraturas de mandíbula em cães no Brasil e causam dor e sofrimento, sendo de difícil tratamento.

Mas não é só na boca que a doença periodontal causa problemas. A inflamação das gengivas e outros tecidos ao redor dos dentes facilita a entrada de bactérias da boca na corrente sanguínea. Uma vez no sangue, as bactérias podem se depositar no coração, nos rins, no fígado e nas articulações. Um estudo apontou que, a cada cm² afetado pela doença periodontal, há 40% maior chance de alterações cardíacas e renais, e 20% a mais de chance de alterações hepáticas. Considerando que cães pequenos são mais afetados por doença periodontal e também por insuficiência cardíaca do que os grandes, é possível que haja uma forte correlação entre as duas doenças nestes animais.

Como é feito o tratamento?

O tratamento da placa bacteriana e dos cálculos dentários é essencialmente o mesmo, consistindo na remoção das placas/ cálculos por meio de raspagem ou ultrassom. Este procedimento é chamado profilaxia dentária, já que tem como objetivo a profilaxia ou prevenção da doença periodontal. No caso da doença periodontal, além da limpeza, pode ser necessário também corrigir cirurgicamente defeitos nas gengivas e nos ligamentos dentários. Dentes muito afetados podem precisar ser removidos. Algumas novas técnicas incluem o uso de membranas biológicas e até mesmo de células tronco, para tentar regenerar as lesões ósseas e de ligamentos, mas elas ainda são pouco usadas em cães (em humanos, já se usa há algum tempo). Para uma limpeza completa e prevenção da doença periodontal ou para se evitar a sua progressão, o cão deve ser submetido à anestesia geral. É considerada imperícia e imprudência fazer a profilaxia dentária em cães conscientes ou apenas sedados. A anestesia geral é necessária para evitar dor no animal, e também para permitir uma adequada manipulação da boca do cão.

Como já mencionamos, existe a possibilidade de que as bactérias da boca entrem na corrente sanguínea e afetem outros órgãos. Isso tende a acontecer ainda mais quando o animal se alimenta ou se for feita a manipulação dos dentes. Desta forma, quando se decide fazer uma profilaxia dentária em um cão, é recomendável administrar antibióticos alguns dias antes do procedimento. Tal medida irá diminuir a inflamação das gengivas (e, assim, diminuir os sangramentos durante a limpeza) e a quantidade de bactérias, para que elas não migrem tanto para o resto do corpo. Além de antibióticos, o uso de antissépticos orais também é útil para aumentar a eficácia e a própria segurança do procedimento. Ambos devem ser usados antes, durante e depois da profilaxia.

Tem como prevenir?

Cão segurando escova de dentes
A escovação dos dentes é essencial para prevenir a doença periodontal.
Imagem: The Animal Foundation

Para evitar que o problema ocorra – ou, no mínimo, para retardar o seu início e progressão -, é preciso escovar os dentes do cão pelo menos três vezes por semana. A escovação pode ser feita usando-se dedeiras ou escovas com cerdas macias e pasta de dentes própria para cães. Não use pasta de dentes de humanos, devido ao risco de intoxicação por flúor. Mais importante do que a pasta escolhida é o abrasão causado pelo ato da escovação regular.

Convivendo com o problema

Se o seu cão já tem doença periodontal, procure o seu médico veterinário para fazer o tratamento adequado, não deixe o problema progredir. Não se preocupe se for necessário remover um ou mais dentes, já que os cães se adaptam bem a esta condição, e muitos conseguem comer até mesmo ração seca usando apenas as gengivas (mas, se não conseguir, pode comer papinhas também). Idealmente, escove os dentes do seu cão diariamente (ou pelo menos 3 vezes por semana), e leve-o para fazer profilaxia uma vez ao ano. Se ele já estiver muito velhinho e debilitado para poder ser anestesiado, cuide com ainda mais atenção da higiene oral dele, e dê ossos (naturais) para causar maior abrasão nos dentes e ajudar a limpá-los. Existem também produtos especiais para cães feitos com enzimas que podem ser aplicados diretamente na boca ou colocados na água de beber para melhorar a limpeza dos dentes. Mas não assuma que o seu cão não pode ser anestesiado só porque é velhinho! Leia o nosso artigo sobre o assunto, e fale com o seu veterinário.


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  1. Boa TArde Dra, Meu cachorro tem 12 anos, ele é super saudavel, mas tem tartaro em estagio avançado, pois os dentes estão bem amarelos. Ainda não fiz o procedimento pois tenho muito medo da anestesia. Mas noto que algumas vezes incha e fica vermelha a gengiva. O que posso fazer?
    Tem exame para saber se ele pode passar por anestesia?

  2. Doutora Bárbara,

    Muito bom esse artigo, explica bem os riscos da evolução da doença periodontal.
    Uma pergunta: doença periodontal pode evoluir para sopro no coração grau 4 ou não há relação?

    Obrigada,

      1. Olá, Doutora Bárbara

        Agradeço pela resposta e pelo link. Perdi um cachorro de 7 anos com sopro, uma limpeza de tártaro desastrosa que acabou resultando em falta de oxigenação cerebral e MEG…

        Uma dúvida: o meu cachorro menor (10 kg) tem mau hálito e um pouco de tártaro (em estágio 2 nos dentes molares), mas ao passar gel de aloe arborescens miller (um tipo de babosa), o hálito ruim acaba (estou começando a acostumá-lo a escovar os dentes). Ele inclusive gosta de mastigar o gel, como se fosse um chiclete.
        Considerando o fato de que a babosa possui propriedades bactericidas, fungicidas e anti-inflamatórias, isso seria suficiente para eliminar ou neutralizar as bactérias resultantes do tártaro?
        Em relação ao fio dental, ele gosta, embora eu não consiga passar direito, pois ele pensa que é uma brincadeira. Gostaria de saber se é recomendável passar ou não.

        Ainda sobre a MEG: essa doença é genética? Pergunto por causa do filho e neto desse que morreu em decorrência dessa doença.

        Muito obrigada novamente,

        1. A insuficiência cardíaca tem sim um componente genético, sendo especialmente comum em cães pequenos como os poodles.

          O uso de géis dentais, escovação de dentes, ou enxaguantes bucais em geral, podem ajudar a retardar o processo de formação de cálculos dentários. Mas, uma vez que a doença periodontal já esteja instalada, a única forma realmente eficaz de tratar é através da limpeza feita com o cão sob anestesia geral. Sem isso, os danos às raízes dos dentes continuam a se agravar.

          1. Agradeço novamente por sua resposta tão esclarecedora, doutora Bárbara.

            A Meningoencefalite Granulomatosa – MEG também é genética? Há alguma forma de se evitar essa doença cruel? Ela pode estar relacionada de alguma forma ao tártaro?

            Obrigada,

          2. A MEG é uma doença inflamatória, mas não infecciosa. Até o momento, as causas dessa doença são desconhecidas, mas sabe-se que não é causada por bactérias – portanto, não estaria relacionada ao problema dentário (outros tipos de meningite ou encefalite até podem ter relação, mas a MEG especificamente, não).

            Ela é mais comum em cães pequenos de meia-idade, como o Poodle, Lhasa Apso, Shi Tzu e Maltês, e afeta mais as fêmeas do que os machos.

          3. Agradeço por sua resposta, doutora Bárbara.
            Não sabia que era mais comum em fêmeas. O meu era macho.

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