novembro 26

Obesidade na terceira idade

A obesidade ocorre através de um mecanismo relativamente simples: quando a ingestão de energia (calorias) dos alimentos supera a quantidade de energia que um animal gasta ao longo do dia, o organismo reserva este “extra” na forma de gordura. Trata-se de um mecanismo básico para a sobrevivência, visto que, desta forma, o corpo se prepara para períodos mais escassos.

O problema é que ninguém contou para o nosso corpo, nem para os dos nossos cães ou gatos, que o alimento estará disponível todos os dias, em quantidade suficiente para a manutenção das funções vitais. O que ocorre é que o organismo passa dias, meses, ou até anos, estocando energia para um período de escassez que – ainda bem – acaba não chegando para a maioria. Como consequência, passado algum tempo, o que eram apenas alguns gramas ou quilinhos a mais acabam se transformando em verdadeiros excessos, que prejudicam significativamente a saúde e o bem estar de animais e humanos.

Por que muitos animais considerados “normais” sofrem com a obesidade na terceira idade?

 

Cão de costas - obesidade

 

  • Estes animais naturalmente têm um metabolismo mais lento, o que significa que eles precisam de menos energia do que os mais jovens para a sua manutenção;
  • Eles passam a dormir mais e se exercitar menos por motivos diversos, tais como:
    • A própria idade;
    • Doenças cardíacas ou respiratórias, que diminuem a disposição do animal, e que também podem se agravar se ele for submetido a exercícios mais intensos;
    • Artroses, hérnias de disco, entre outros problemas ortopédicos, causam dor e limitam a movimentação;
    • Câncer, doenças hepáticas ou renais, ou outros problemas crônicos fazem com que o cão não se sinta muito bem, e, portanto, indisposto a brincar, correr ou se exercitar;
    • Síndrome de Cushing, hipotireoidismo e outras desordens hormonais podem tornar o metabolismo ainda mais lento, e ainda aumentar o apetite do cão, favorecendo o acúmulo de gorduras.
  • Fornecimento de dieta de cães adultos para idosos (veja artigo);
  • Pequenos acúmulos ao longo da vida acabam se somando;
  • Petiscos: como os cães idosos passam a brincar e se exercitar menos, muitos tutores tentam “alegrar” os seus animais através de petiscos.
  • Genética: certas raças, como o Poodle, Cocker e Labrador são geneticamente predispostos à obesidade.

O meu cão é obeso?

Para saber se um cão é obeso, é preciso levar em conta não apenas o peso dele, mas também o seu escore de condição corporal, a conformação normal da raça, e a percentagem de gordura corporal.

  • Escore de condição corporal (ECC): é o método mais comum, simples, e barato. Este método usa como recursos a observação visual e a palpação. Devem ser observados o formato do corpo do animal, a cintura, as costelas e ossos pélvicos. Veja aqui uma ilustração retirada do site da Royal Canin, que ajuda a identificar qual o escore corporal de cães e gatos.
  • Conformação racial: existem raças que são naturalmente mais delgadas, como é o caso dos galgos, e outras que são bem mais “parrudas”, sem serem obesas, como ocorre com os pit bulls. Isso deve ser levado em conta na hora de se avaliar o ECC do cão.
  • Percentagem de gordura corporal: existem vários métodos diferentes para se calcular qual a percentagem de gordura corporal de cães ou gatos. É preciso notar que alguns métodos, embora a princípio sejam mais precisos, acabam necessitando de fatores de correção caso o cão seja de alguma raça menos proporcional, como os Dachshunds e Basset Hounds – que possuem o corpo bastante alongado em relação à altura dos membros. Normalmente, quem vai calcular este valor será o seu médico veterinário.

Acho fofo o meu cão ser gordinho, qual é o problema disso?

Sim, cães e gatos gordinhos são fofos. Mas estes animais sofrem, e ainda ficam sujeitos aos mesmos problemas que os humanos com sobrepeso. Foi feito um estudo que revelou os seguintes números:

  • 45% dos cães obesos têm pressão arterial elevada;
  • 51% têm alguma alteração no eletrocardiograma;
  • 32% têm colesterol elevado;
  • 28% têm altos níveis de gordura no sangue.

Fora isso, cães obesos sofrem mais com o calor, podem ter dificuldades respiratórias, sentem-se cansados mais facilmente, e muitos sentem dores ao caminhar, devido ao grande esforço despendido. O sobrepeso também prejudica as articulações, o que causa ainda mais dor e sofrimento a médio e longo prazos.

Tem solução?

A maioria dos casos tem. A fórmula básica para o emagrecimento é aquela que todos nós conhecemos: dieta equilibrada e moderada, associada a exercícios regulares. Não tem mágica. Para que o emagrecimento ocorra de forma saudável, ele deverá ser acompanhado pelo médico veterinário, que determinará metas de perda de peso e orientará o tutor quanto às alterações que deverão ocorrer na rotina do animal.

Uma das grandes causas de insucesso nos programas de emagrecimento (tanto para cães quanto para humanos) é a pressa para se atingir resultados visíveis e significativos. Deve-se ter em mente que um emagrecimento saudável é um processo lento e gradual – pode levar 5, 6 meses, ou até mais tempo para que se atinja o resultado desejado. Por exemplo: no caso de um cão que esteja pesando 15Kg, mas cujo peso ideal seja 10Kg, o emagrecimento deverá ocorrer ao longo de nada menos do que 8 meses!

Outro problema é a dificuldade que muitos humanos têm em compreender que – salvo raras exceções – os seus cães são menores do que pessoas, e, portanto comem menos. Uma consequência lógica disso é que as perdas de peso (em termos numéricos) serão menores, mas não por isso, menos significativas. No exemplo que já demos acima: o cão que pesa 15 Kg, mas cujo peso ideal é 10Kg, perderá uma média de apenas 150g por semana. Pode parecer pouco, mas isso representa 1% do peso dele. É o mesmo que uma pessoa de 50Kg perder 500g em uma semana. Passados 8 meses, este animal terá perdido 33% do seu peso – ou seja, o equivalente a uma pessoa passar de 50Kg para 33Kg!

Além da dieta, deverão ser associados também caminhadas regulares, pelo menos 3 ou 4 vezes por semana (idealmente, as caminhadas devem ser diárias). Quando isto for uma possibilidade, a natação também é uma ótima alternativa, por proporcionar um ótimo exercício com baixo impacto para as articulações. As corridas devem ser evitadas por cães muito acima do peso, pois elas podem acabar prejudicando as articulações. Ressaltamos aqui que, caso o cão tenha algum problema cardíaco ou respiratório, o programa de exercícios deverá ser adaptado à sua condição, conforme a orientação do médico veterinário responsável.

Por fim, cabe lembrar que alguns cães podem ter problemas hormonais, como Síndrome de Cushing e Hipotireoidismo, que podem dificultar ou até mesmo impedir o emagrecimento. Estes casos devem ser identificados pelo médico veterinário e tratados.

O mal dos petiscos…

Um cão de 10Kg que esteja no seu peso ideal deve consumir apenas 740Kcal por dia (se ele estiver em dieta para emagrecer, deverá consumir menos calorias ainda)! Para quem gosta de dar um petisquinho ao cão enquanto come, isso significa que, ao dar uma única fatia de pizza de mozzarella (304Kcal) para este cão de 10Kg, estará fornecendo a ele quase a metade das suas necessidades calóricas diárias (se ele estiver de dieta, já terá sido fornecida bem mais da metade)! O mesmo vale para uma fatia de bolo de fubá, que tem aproximadamente 310Kcal. Se o cão for ainda menor, pode ser que todas as suas necessidades calóricas diárias sejam supridas em um único “petisco”!

Achou pouco? pois saiba que, para este mesmo cão de 10Kg, um pão francês equivale a 18% das suas necessidades diárias. Para um ser humano cujas necessidades diárias girem em torno de 2000 Kcal, é a mesma coisa que tomar um Milk Shake, ou comer um prato de macarrão a carbonara – não tão insignificante…

Mesmo que os petiscos fornecidos ao cão sejam menores, ou “próprios para cães”, eles possuem um grande impacto no peso dos animais. Para cães que tenham tendência à obesidade, ou que já estejam acima do peso, os petiscos são ABSOLUTAMENTE PROIBIDOS. O ideal é encontrar outras formas de agradar o cão, que não através da comida. Um momento de carinho, ou mesmo uma boa caminhada, são até mais compensadores para o cão, e não engordam.

A Dieta Ideal

A dieta pode ser caseira, conforme recomendação veterinária (não tente “criar” um cardápio por conta própria, e nem forneça restos de alimentos ao seu cão), ou comercial. Atualmente, existem diversas marcas de ração que oferecem opções específicas para a manutenção e perda de peso. A quantidade de alimentos correta deverá ser calculada pelo médico veterinário, conforme o peso do seu cão, o seu escore corporal, o objetivo a ser atingido, e o tempo estipulado.

Ainda que uma das possibilidades para o emagrecimento seja simplesmente reduzir as porções dos alimentos com os quais o cão já está acostumado, esta não é a situação ideal. A redução pura e simples da quantidade de alimentos é algo bastante estressante para o animal, que poderá sentir muita fome e ainda ficar com deficiências de vitaminas e minerais. Por conta disso, é importante que a dieta seja específica para o emagrecimento. A vantagem das dietas específicas é que elas já são feitas com o objetivo de manter o metabolismo acelerado, causar saciedade antes, e ainda possuem altos níveis de proteínas, vitaminas e minerais, essenciais para que o cão perca apenas peso, mas não a saúde.

Depois da Dieta…

Ocorre com humanos e com animais. Após um período de restrição, o organismo “pede” para engordar novamente. É comum que ocorram descuidos, e o animal volte a ganhar peso. Por isso, fique atento: mesmo depois que o seu cão voltar ao peso normal, ele deverá continuar sendo exercitado, e a dieta deverá ser controlada.


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  1. Olá, Dra. Bárbara!
    O problema da minha idosinha Vitória é o contrário. Ela tem insuficiência renal crônica e perdeu muita massa muscular devido à medicação e dieta. Isto também está afetando as suas articulações. Foi orientado dar junto com a comida aminoácido de cadeia ramificada.

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